Funcionária afirma ter sido estuprada pelo diretor da Usip

Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip) Foto: FAN F1
Uma funcionária de uma empresa terceirizada que atua na Unidade Socioeducativa de Internação de Provisória (Usip) afirma ter sido estuprada pelo diretor. Os relatos são fortes e, para preservar a identidade da suposta vítima, a chamaremos de Patrícia.

Segundo a jovem, o diretor a teria convidado para fazer uma faxina no apartamento dele e, por necessidade e por já conhecê-lo, ela teria aceitado. Vale ressaltar que o convite foi feito, segundo ela, no ambiente de trabalho, na manhã do dia 21 de dezembro do ano passado, há exatos 13 dias.

“No ato da conversa foi uma faxina. A pessoa me chamou e eu achei que era para fazer um serviço na sala dele. Ele pediu para eu sentar perto dele, isso era por volta de 10h40. Ele me chamou para almoçar e eu disse que não podia deixar o meu companheiro de equipe trabalhando sozinho. Ele me disse que era para eu sair e esperar no ponto de ônibus para fazer uma faxina na casa dele. Para suprir a minha necessidade em cima do salário que eu recebo, porque o meu esposo está desempregado, eu preciso terminar o piso da minha casa, aí eu aceitei ir fazer a faxina. Nos dias de folga eu faço bico, eu sou cuidador de idoso”, conta Patrícia.

A mulher continua a descrever o ocorrido: “Eu entrei no carro e ele foi direto para o apartamento no Jabotiana. Antes de entrar no apartamento, ele me pediu para aguardar dentro do carro que ele ia comprar um negócio. Quando ele voltou, já foi com uma bolsa de cerveja. Quando entrei no apartamento eu estranhei porque ele trancou e tirou a chave. A minha pressão já começou a baixar, porque eu estava com o estômago vazio. Eu fiquei recuando. Se eu tivesse com a minha arma a laser, ele não tinha feito esse ato”, relata aos prantos.

E a situação, segundo ela, foi ficando ainda pior: “Eu sentada no sofá e ele começou a fazer perguntas particulares minha. Me pediu para ficar em pé e disse que gostou de mim porque eu sou quietinha e toda por fora. Então, começou a tirar a minha roupa, a parte da blusa e a me beijar. Eu assustada, pedi água e com cinco minutos depois eu já estava me sentindo lerda, como se o meu corpo estivesse diferente. Ele tirou o sapato, a blusa, me chamou para o outro sofá. Depois foi me levando para o quarto, tirando a minha roupa e me dando pressão para eu dizer coisas para ele devido ao ato da relação, queria que eu dissesse coisas para ele como se fosse marido e mulher, palavras de romance. Eu comecei a ficar gelada, não sabia se gritava, fiquei em estado de choque. Ele me jogou na cama e começou a fazer o primeiro ato da transa, que foi o primeiro assédio sexual. Nisso, eu fiz a vontade dele contra a minha vontade e ele dizendo para eu relaxar, ficar tranquila. Teve um momento que eu disse que queria ir embora. Depois do primeiro ato, eu corri no banheiro, vesti a minha calça e ele me pegou de novo, começou a me abraçar a me amolar e novamente para o segundo ato. Eu já estava fadigando, cansada”, conta ofegante e fazendo pausa para beber um copo com água.

Num determinado momento, Patrícia até pensou em esfaquear o acusado. “Fui na cozinha beber água novamente e vi um argumento lá, que me deu vontade de pegar, foi uma faca. Confesso e não minto. Eu pensei que tenho um filho para criar. É como diz, ou você dá uma de atriz para sair daquilo de imediato, ou você mata ou morre. Vou ser sincera, teve uma das relações, a segunda relação, que o preservativo estourou, de tanta violência que ele fez o ato. Eu estou ferida por dentro, estou em tratamento. Ele me ofereceu até a pílula do dia seguinte, lá no apartamento mesmo. Com todas as letras. Teve um dia aqui em casa que eu já tentei até tirar a minha vida”, mais choro.

E não parou por ali. “Ele queria que eu tomasse champanhe, me obrigando a beber. Já era na faixa de 13h30 e eu sentindo calafrios na mão. Estou com a imunidade baixa, estou com anemia. A gente almoçou e eu pensei que já ia ser liberada, mas não. Ele começou a me beijar de novo, me levou para o quarto e lá ocorreu a terceira relação. Quando ele bebia a cerveja, ficava mais agressivo porque ele queria, tenho até vergonha de falar, que eu alcançasse o orgasmo como mulher. Isso me fez me sentir ainda pior. Queria que eu fizesse coisas que nem com o meu esposo eu faço”.

De acordo com o relato de Patrícia, quando ela pensou que já estaria livre, o acusado deu início à última relação. “Quando foi na quarta relação, eu corri para o banheiro e fui me arrumando. Ele ficou assustado e pediu para eu ficar um pouco e saiu na frente. Na portaria, ele fez outra graça já, justamente, para a câmera pegar. Ele me deixou no Centro. Ainda dentro do carro, eu queria ir para a delegacia, eu olhei o meu aplicativo do Banese e vi que o meu décimo terceiro havia sido roubado, não estava na conta. Eu fui para casa e quis contar para o meu esposo, mas não tive coragem e passei o fim de semana todo mal”, narra.

A vítima afirma que na segunda-feira, quando chegou ao seu local de trabalho, todos já a olhavam de forma estranha e em tom acusador. Foi aí que decidiu ir até a delegacia e prestar um Boletim de Ocorrência.

“Quando cheguei na segunda-feira para trabalhar, as pessoas já sabiam e eu não sabia quem tinha contado. Vi as pessoas me julgando com o olhar. Foi quando um colega chegou e me disse para eu ter cuidado, porque ele estava espalhando que ia tirar uma casquinha de mim. Só vim adoecendo, até o dia 27, quando decidi tomar uma atitude. Eu estou com necessidade, mas estou lutando pela minha dignidade. Não me incomodo de perder o meu emprego. Não é justo a pessoa agir da maneira que agiu e ficar sem uma punição. Gravei tudo o que tenho num CD e já está nas mãos da delegada. Se eu tivesse consentido, eu estava sorrindo, tinha trabalhado como se nada fosse, estava mandando mensagens e tinha pedido dinheiro, porque se fosse uma mulher de esquina tinha cobrado caro. Em nenhum momento eu estou aqui para mentir”, finaliza Patrícia.

Resposta da Fundação Renascer

Em nota, a Fundação Renascer informou que, assim que tomou conhecimento do caso, instaurou sindicância para apurar os fatos e encaminhou o afastamento do diretor da sua função na unidade. A partir de segunda-feira, dia 6 de janeiro, passa a responder também pela USIP o atual diretor do Cenam, Júlio Reis. A gestão da Fundação reafirmou, também na nota, que não compactua com qualquer ato violento ou criminoso por parte de nenhum servidor e que, caso se confirme o fato, providenciará a destituição do diretor das funções, devendo ele responder às autoridades competentes.

Tentamos entrar em contato com o acusado, que ao ser questionado sobre a sua versão dos fatos, desligou a ligação e bloqueou o WhatsApp. A delegada responsável pelo caso informou que instaurou procedimento para apurar as acusações e que já ouviu a vítima. O acusado deverá ser ouvido nos próximos dias.

Por Diego Rios

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